
Segundo Datafolha, 53% dos brasileiros reduziram o consumo de álcool no último ano, abrindo espaço para novas tendências em bares e indústria.
Aos 23 anos, Gabrielle Ribeiro decidiu parar de consumir bebidas alcoólicas. Reuniu todas as garrafas que tinha em casa e as colocou dentro de um saco de lixo.
A influenciadora digital trocou as festas por noites de sono, os dias de ressaca por trilhas matinais e os copos de drinks por suplementos. Perdeu 16 quilos, passou a economizar até R$ 300 por semana e, de quebra, conquistou milhares de seguidores ao compartilhar a sua história nas redes sociais.
Gabrielle não está sozinha. Cerca de 53% dos brasileiros que consomem álcool reduziram a ingestão no último ano, segundo o Datafolha. A pesquisa ouviu 1.912 pessoas.
Entre os jovens da geração Z, de 16 a 30 anos, apenas 45% afirmam beber — bem menos que nas gerações anteriores, aponta uma pesquisa da MindMiners feita com 3 mil pessoas. Já entre os Millenials (que hoje têm entre 31 e 41 anos) 57% mantêm o hábito. Na geração X (entre 42 e 61 anos), o número sobe para 67%, e entre os Boomers (entre 62 e 78 anos), chega a 65%.
O bem-estar, a estabilidade emocional e o controle financeiro estão entre as razões que têm levado muita gente a repensar sua relação com o álcool.
Nem todos, porém, passaram por uma ruptura como a de Gabrielle. Há quem nunca tenha se identificado com o sabor ou com a ideia de beber. É o caso de Rayane Moreira, que cresceu vendo o álcool causar conflitos em casa.
“Como é que eu vou beber para espairecer e trago problemas para dentro de casa?”, questionava ainda na adolescência. Mesmo depois de deixar uma religião que proibia o consumo, ela manteve a decisão.
Em encontros sociais, prefere sucos, refrigerantes ou água. E quando decide beber, opta por drinks zero álcool — os chamados mocktails — ou vinhos.
Histórias como as de Rayane e Gabrielle mostram um comportamento que tem sido mais frequente em gerações mais novas — e que tem mexido no mercado.
O consumo de cervejas sem álcool no Brasil cresceu mais de 200% entre 2020 e 2023, passando de 197,8 milhões para 649,9 milhões de litros, segundo a Euromonitor. A expectativa é que o volume se aproxime de 1 bilhão de litros em 2025.
O país já é o segundo maior mercado mundial de cerveja zero, apontam os dados da World Brewing Alliance (WBA), associação comercial internacional da indústria cervejeira.
O cenário revela um público mais aberto à moderação e à experimentação. Mesmo quem continua bebendo, faz isso com mais critério. Essa busca por qualidade impulsiona rótulos premium.
Maurício Porto, proprietário do bar Caledonia, já sente os impactos. Especialista em uísques e coquetelaria, ele conta que a procura por mocktails cresceu tanto que o estoque chega a acabar em alguns dias.
A carta da casa tem cinco coquetéis sem álcool, preparados com técnicas de infusão de especiarias e clarificação — técnica para tornar o líquido mais claro e límpido —, o mesmo cuidado dado às versões tradicionais.
“Hoje, eu vejo efetivamente que os coquetéis sem álcool saem (…) as pessoas tinham preconceito e passaram a perder. A qualidade dos coquetéis sem álcool melhorou muito”.
A indústria também tem se ajustado. A Ambev, maior cervejaria do país, afirma que rótulos como Bud Zero, Corona Cero e Stella Pure Gold têm ganhado força, e a companhia projeta que o segmento de cervejas sem álcool cresça até cinco vezes mais rápido que o das tradicionais até 2028.
Na Diageo, gigante global de destilados premium, o foco é diversificar e sofisticar a experiência. A empresa aposta em marcas como Seedlip e Ritual Zero Proof e em versões 0.0 de clássicos como Guinness e Tanqueray.
Fonte: https://g1.globo.com/
